quinta-feira, 8 de março de 2012

Somos todos feministas - até você que acha que não*

 
Somos todos feministas. Mesmo que você aí, que também é mulher, ache que feministas são mal-amadas que queriam ser homens. Ou que prefira mesmo que os homens paguem a conta, que abram a porta do carro e te puxem a cadeira no restaurante. Mesmo você aí que é homem e acha que tudo bem ter um dia internacional da mulher, se os outros 364 são de vocês. Mesmo você que é muito moderno, mas que não lava nem a sua cueca.

Porque você aí que está louca pra se casar e ter três filhos, graças ao feminismo, vai escolher o seu marido e poder tomar pílula, pra não ter doze criancinhas ao invés de três. E você nem precisa renunciar ao seu nome de família se não quiser. A lei te permite ser casada e manter seu nome. Ou que seu marido adote o seu. E se não der certo, a sociedade não vai estampar na sua cara um rótulo de vagabunda porque você se separou. Você começa tudo de novo, porque você tem um emprego e não depende do sustento de seu marido ou do seu pai. E se deus o livre um dia um safado cometer alguma violência contra você, você pode ir a uma delegacia que trata especificamente esse tipo de crime. E se você pode dirigir, pode usar a roupa que quiser, estudar, votar, ir ao bar com suas amigas, dormir com seu namorado antes de casar (e sem ter que casar porque dormiu) e tantas outras coisas que mesmo quem é muito metida a tradicional não dispensaria fácil, saiba que se não fossem as feministas muitas dessas coisas demorariam a acontecer. Se é que aconteceriam.



E você aí que é homem e a essa altura pode estar pensando que muitas “conquistas” femininas na verdade favoreceram o homem, eu sinto dizer que você está se enganando. Porque se você acha bom que a mulher divida a conta no jantar, isso quer dizer que ela também escolhe o que vão comer. Se você acha que é ótimo dormir com alguém sem ter que casar, namorar, você sabe que corre o risco de também ser visto como um mero pedaço de carne. Se você quer muito ter um filho pra chamar de Júnior é bom saber se mulher que você escolheu quer ser uma feliz mamãe de uma penca de filhinhos. Porque ela também trabalha, porque ela também está preocupada com a carreira e pode ter outras prioridades que te assustem. E por fim, se você acha que tudo isso vale pras outras menos pra sua mãe, porque afinal, a gente tende a achar que mãe não é mulher, saiba que um belo dia ela pode acordar cansada da vida de rainha do lar e ir a luta. E aí ela vai dizer que até lava a sua roupinha, mas que você comece a arrumar suas coisas e ajudar em casa.  A minha mãe fez isso, não pense que não acontece. Mas não fique triste. Porque quando você não tem mais de ser o provedor da casa, nem o homem forte que não chora nunca. Porque provavelmente a mulher que você encontrar vai querer ser sua companheira e construir uma vida com você.
  

Eu sei, você que também é feminista como eu, deve estar achando que eu pirei. Que as mulheres continuam sendo espancadas, rotuladas como piranhas ou mal-amadas, continuam ganhando menos, continuam cumprindo a dupla-jornada, que ainda guiam suas vidas por valores questionáveis, que muitas ainda julgam umas às outras e perpetuam o machismo. É verdade. É por isso que a gente tem que lutar todos os dias. O feminismo já conseguiu muita coisa, mas temos que diariamente combater nossos próprios preconceitos. Os nossos e os de quem está à nossa volta.

Isso quer dizer que além de palavras de ordem, temos que chamar nossos pais, irmãos, namorados, maridos, amigos do sexo masculino, pras tarefas domésticas. Não pra “eles verem o que é bom”, mas porque é justo que todos ajudem. Lutar diariamente contra o machismo é evitar dizer que “se tal coisa já é feia em homem, em mulher é pior”. Ou que é a mulher que se preocupa com a casa e com a família, que temos “mais jeito” pra essas coisas. Nós não somos seres superiores e nem tampouco os homens são seres que precisam que sejamos sempre mães deles. Nós temos que lutar pela igualdade. De direitos, de tratamento e de convivência social. Sempre. Todos os dias do ano, todos os dias da vida.

*Originalmente publicado em 08/03/2006 no falecido blog Oficina Irritada 

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