domingo, 27 de maio de 2012

Marcha das Vadias 2012: a nossa luta é todo dia

Segundo os cálculos da Polícia Militar de São Paulo, devíamos ser 700 pessoas carregando cartazes, cantando e usando nossos corpos para colorir o percurso que foi da Praça do Ciclista (Avenida Paulista), desceu a rua Augusta e foi até a Praça da República para protestar contra o machismo e a violência contra a mulher.
Não importa o número. Éramos muit@s. Éramos a legião. Mulheres que não toleram mais as agressões a que estamos expostas diariamente: das ofensas dirigidas à nossa sexualidade, cantadas e encoxadas no metrô à culpabilização das vítimas pela violência que sofrem. Ela não deveria estar andando sozinha, ela não deveria andar vestida daquele jeito, ela não deveria ter bebido tanto, ela estava pedindo. Junto a nós muitos homens que se recusam a fazer parte dessa cultura e que entendem que o machismo é algo que prejudica tanto aos homens quanto a nós. Mães e pais com suas crianças a favor de uma educação que não crie nem machões nem submissas.

Dia 26 de maio de 2012. Era uma linda tarde de sol quando unid@s pelo lema "Se ser livre é ser vadia, então somos todas vadias" uma multidão fechou parte da Avenida Paulista para gritar que não aceitaremos calad@s a violência a qual somos submetidas diariamente. As atividades começaram por volta das 14h30, com o megafone aberto para depoimentos emocionados de sobreviventes da violência doméstica, abuso sexual e estupro.

O grupo de mulheres que organiza a Marcha das Vadias em Campinas (SP) fez um jogral que lembrava os números da violência contra a mulher no Brasil, das anônimas às Eloás, Elizas, Mércias e Marias da Penha. Usando o "microfone humano" - tática usada pelos manifestantes do Occupy em diversas partes do mundo - íamos repetindo esses dados e frases que ao final deixaram muitas com lágrimas nos olhos. Eu fui uma delas.

Saímos em direção à rua Augusta. Que alegria foi pra mim encontrar várias alunas no protesto, que foi muito bonito e pacífico. Por isso mesmo causou-me estranhamento (e medo) ao ver nosso cortejo escoltado por batedores da PM. Protestar pode, desde que não atrapalhe o tráfego. Felizmente, não tivemos problemas com a lei. Por onde passamos vimos rostos que ora estavam perplexos - principalmente diante das várias mulheres sem camisa - ora sorriam demonstrado apoio.


Dos ônibus e carros muitas mulheres acenavam em sinal de aprovação. De um dos prédios da Augusta, um homem balançava a bandeira do Corínthians ao som da nossa batucada. Em um dos melhores momentos cantamos diante de uma igreja "Sexo! Aborto! Direito ao nosso corpo!" e "Mantenha seu rosário bem longe dos meus ovários" contra a intromissão do Papa nas políticas relativas ao aborto e casamento gay. Vale lembrar que a marcha tem o apoio e participação das Católicas Pelo Direito de Decidir, grupo que cujo nome já diz, é composto por mulheres católicas favoráveis a descriminalização do aborto. Isso me remete a outro grito que marcou o protesto "Que contradição! Aborto é crime, homofobia não". O que nos lembra que nossa luta tem muito pela frente.


Chegamos na Praça da República às 17h ainda cantando "Vem pra rua, vem contra o machismo". Como eu, muit@s presentes estavam cansados, com fome e com sede, mas não fomos embora antes de fazer um minuto de silêncio por tod@s aquelas que tiveram suas vozes silenciadas pelo machismo e que são a razão de termos, em 15 cidades brasileiras, ter usado o nosso tempo livre para lembra-las e nos unir até que tod@s sejamos livres.

Machistas, fascistas: não passarão!


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